NÃO MORRAS DANIEL, NUNCA MAIS!

Daniel da Silva

Que só me morras uma vez! Não temos forças para te perder mais! Não quero que morras porque a tua vida foi das maiores provas de que o Céu que tanto desejamos, existe no local onde somos gente. Não morras nunca mais, porque a tua ausência deixa-nos sem capacidade para nos despedirmos, pois nunca saberíamos o que dizer a alguém que vive para sempre... Não morras… nunca mais!

Muitas pessoas morrem enquanto pensam que estão a viver. Já não dão vida, já não fazem a diferença, já não vivem. Gente de vidas longas, sobrevivendo e definhando apenas com serviços mínimos, completamente alienados da realidade certa de que todos temos uma qualquer missão. Existe gente sem missão. Essa gente morre em vida e quando parte, não sentimos a diferença.

Algumas pessoas vivem mesmo depois de morrer, vivem tanto, dão tanta vida, fazem tanto, da mesma forma que sempre fizeram, com a sua alegria natural, com a sua compaixão verdadeira, com a sua nobreza de caráter e com um nó na garganta a cada sentimento novo que começa num olhar e termina num abraço. Essas pessoas choram de alegria, trazem paz a cada conversa, são melodia a cada passo que nos levam a dar, com vontade, sem pressas, sem caminho tantas vezes. Caminham connosco, aprendem com isso, ensinam a partir daí, vivem, dão vida, sempre, para sempre…

Não morras nunca mais Daniel! Não te vás embora outra vez porque a vida que nos dás faz-nos falta. Viveste tanto, viveste tudo dentro de cada minuto, como se cada minuto tivesse uma porta secreta e a parir dela, depois de abrir, a passagem fosse para um outro tempo muito mais vasto, mais largo, onde desligavas o mundo supélfluo e te centravas na essência que apenas quem conhece o tempo pode entender. Entra no carro que eu levo-te à escola. Neste fim de semana temos Promessas, vamos comer tantas torradas e leite na casa dos meus pais…

Não morras nunca mais Daniel! Não vires as costas a este momento, porque tu nuncas as virastes em tempo nenhum. Contigo vivi tanto, vivemos todos um tanto que de simples que era carregava a complexidade dos que amam, dos que sofrem, dos que conquistam, dos que perdem para ganhar depois. Contigo não havia vazio, nem penumbra, nem solidão. Contigo não havia incerteza e as dúvidas eram apenas alavancas para chegarmos mais alto, mais longe, mais fundo, mais próximo. Contigo nunca nada foi impossível, e cada possibilidade, já lá estava, intrínseca à tua pessoa, presente, interna, robusta e certa, séria, sem hipótese de não se transformar numa sessão, numa sossegadinha, num espetáculo, num sucesso, d´origem… contigo tudo era d´origem…

Não morras nunca mais Daniel! Continua a fazer de conta que montas a tenda no acampamento, enuanto te encostas a um sobreiro, e dedilhas melodias acabadas de inventar. Não te preocupes com o jantar, alguém o fará, mas tu não, a não ser que gostem de comer batuques num alguidar virado ao contrário e beber da água que colocavas nas garrafas de vidro para descobrires os sons diversos. As músicas para o fogo de conselho?!?… escolhemos mais logo, temos tempo, estamos pacíficos, afinal apenas faltam 5 minutos e desconfio que vocês ainda nem sequer têm peça cómica. Depois vê-se, para cómico quase que basta só ir…

Não morras nunca mais Daniel! O mundo não tem fronteiras e a música é um passaporte qe não se pede, dá-se a cada arranque, a cada paragem, a cada batalha em cima de um qualquer palco feito do que tu quiseres. Faz barulho, não quero saber. Nunca mais olhas para mim para saberes se podemos começas agora a cantar. Canta quando tu quiseres, o resto acontece de seguida. Treme a tua respiração enquanto afagas a guitarra e respiras lá tão no fundo para depois tremeres a cabeça e olhares a multidão. Continuas a falar com as cordas e a ressonância da madeira é apenas a ressonância do teu coração que bate sempre mais forte. Respiras fundo, os dedos fazem chorar a música, nós não, não choramos nunca mais…

Não morras nunca mais Daniel! Mas isso depende de nós. Não te deixaremos sozinho neste pedido, pois ele acontece em cada um, nas nossas vidas, na forma como te recordamos. A tua última viagem já começou, confortável, aninhado nos nossos corações como tu te aninhavas na noite, na música, nos braços daquela menina lourinha que te fez descobrir o amor. Continuaremos firmes, porque tu abres o caminho e nós seguimos até um dia nos voltarmos a ver, todos. Se puderes vai escolhendo aí um sítio bom para acampar… ou então não, deixa estar… afina a viola e não morras nunca mais!

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares