Final de sábado

Final de sábado
Não haverá nada de que eu mais goste do que os finais de sábado. Seja frio. Seja calor. Entramos na cozinha e o vagar de quem cozinhou lentamente durante a tarde cheira-se no ar e o cheiro vai passeando-se devagar, vem ao nosso encontro, convida-nos a fechar os olhos e a ficar assim, como que pairando no espaço da casa. O tempo de sábado ao final da tarde, é dia cheio que nos agarra à ombreira da porta e nos mostra o jardim de portas abertas.

Se chove, ficamos com o rosto encostado ao vidro frio da janela por onde escorre uma água que parece querer-nos lavar por dentro, e que muitas vezes desafia lágrimas a correr do lado de cá da chuva, só porque sim. Se faz calor o nosso corpo paira sobre a relva com os olhos bem pregados no céu azul e as crianças em volta de nós, procurando ser o sol, querendo ser o chão, sendo a nossa vida plena.

Não haverá nada de que eu mais goste do que os finais de sábado, quando o dia se encerra devagarinho e dá lugar a uma espécie de tempo mágico que puxa a noite para baixo e nos apresenta a possibilidade de apenas ficar ali, olhando, cheirando os lençóis que pendem no estendal, ou cheirando o fumo da madeira que arde na lareira e transforma o céu numa neblina misteriosa. O final de sábado é sempre assim, quando, depois de uma semana cheia de loucuras filhas da normalidade dos dias, cheira a bolos, cheira a lavanda e lúcia lima, cheira a relva acabada de cortar e cheira a limão, alecrim e hortelã da ribeira.

Não há dia como este pequeno final de tarde onde somos tempo e preenchemos espaço, com a possibilidade demorada de não cumprir mais do que apenas estar assim, entre o final do dia e o princípio do tempo juntos. O sábado ao final da tarde é o sonho que sonhei e hoje se transformou numa família de cheiros bons… 

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