Os que não existem
Existir ou viver? |
- Porque é que as coisas não
existem?... Desculpa? Não percebi! – fiquei aparvalhado com esta pergunta e
curioso com a explicação que viria depois. Este nosso filho crescido pergunta
tudo sobre todas as coisas e esta pergunta, na catalogação dos seus arquivos
pessoais, enquadra-se no capítulo: coisas que me transcendem. Nos últimos
tempos tem avançado com uma série delas…
- Sim, porque é que existem
coisas que mesmo assim não existem? Por exemplo, os brinquedos não existem, não
vivem, certo? Certo, disse eu já mais por dentro da sua cabeça de menino que
agora já tem sete anos. Mas explica lá isso melhor, disse ainda eu. – Os brinquedos
não têm uma vida como nós, estão sempre ali. É triste estar sempre ali… - disse
ele esboçando agora uma carinha triste como a tristeza que tinha colocado
naquela frase.
Pois é. Os brinquedos não têm
vida. As pedras não têm vida. As folhas vivem nas árvores e depois perdem a
vida e caem ao chão. As pessoas vivem as suas vidas, algumas sobrevivendo,
outras existindo e outras ainda ficando apenas ali…apesar de existirem, parece
que não existem, e ficam ali, até perderem a existência.
Sabes o que é extraordinário? –
perguntei eu procurando abraça-lo enquanto subíamos a rampa vindos da praia
naquele final de dia – extraordinário é nós que existimos, que estamos vivos,
aproveitarmos de tal forma a nossa capacidade de existirmos, de ter vida, para
dar vida a toda a gente e a todas as coisas. Por exemplo, se nós usarmos a
nossa imaginação, os brinquedos ganham vida, transformaram-se em heróis, em
ferramentas, em carros velozes e em dinossauros predadores. Quando nos cruzamos
com outras pessoas, como agora a subir a rampa, devemos ser capazes de dar
vida, ser simpáticos, dizer olá, fazer diferença na vida dos outros. Estar vivo é viver, não apenas existir.
Fez-me parar. Olhou para mim e
disse – espera lá, já percebi, todos podem existir se as pessoas acreditarem
que existem. Isso, quando as pessoas acreditam, existem…
Comentários
Enviar um comentário