UNIFORME: roupa escolhe Homem
![]() |
Roupa escolhe Homem |
As mangas da camisa andam acima do
cotovelo. Braço semi-exposto que quer dizer disponibilidade total. Não tenho
medo nem perco tempo, estou sempre pronto. Não sujo punhos nem mangas porque as
não tenho, e isso, quando nos exige deitar as mãos na massa, não nos atrapalha
nem nos leva a perder tempo que faz falta para outras fainas. As redes são
lançadas das nossas mãos e os cotovelos zelam livres para que toquem nos Homens
que pescamos. Mostramos como se faina e mostramos quão livres estamos para o
fazer, para o continuar fazendo. Somos exemplo nesta coisa séria de levar
crianças e jovens a aprender brincando, escolhendo o que querem fazer, olhando
em seu redor e descobrindo o que os faz verdadeiramente felizes. Perguntamos
sempre o que mais os prende à maravilha de fazer coisas maravilhosas, eles
respondem com o interior da alma, deixando ver o que perante outros escondem:
querem fazer, querem viver, querem sonhar e concretizar sonhos fazendo.
O lenço que se dependura do pescoço
num abraço apertado em nosso redor, liga o céu à terra no mesmo repente que nos
lembra de que ações boas nos tornam melhores pessoas e tornam o mundo cheio de
coisas melhores. Há um nó em lenço que viveu para lá do tempo que o fez. Todos
os dias é assinalada a sua presença como se fosse feito de novo, sem nunca no entanto
ter saído daquele lugar de aperto em que minhas mãos o colocaram. O que conta
não é o nó do lenço feito para lembrar que não é mais possível esquecer o bem
necessário, mesmo a quem mal nos faz. O mais importante é o bem que se faz,
mesmo quando o lenço não anda visivelmente pendente de pescoço nosso, mas é
como se lá estivesse sempre que colocamos os outros em melhor posição.
O mundo não melhorou, antes pelo
contrário. O que melhorou foi a nossa capacidade de continuar a ver isso, de
reconhecer que continua a ser importante andar de calção, mangas acima e lenço
ao peito, levando mundo melhor nos dias em que o mundo está mais mal. O mundo
não melhora se não olharmos para a roupa que trazemos e não renovarmos a
capacidade de chegar onde devemos chegar. Nem mais cá, nem mais lá, ali, onde
fazemos falta. Desde o espelho onde nos miramos e ajeitamos lenço, até ao outro
lado da rua, ou ao outro lado do mundo. Fazemos falta onde existem vidas e as
vidas em construção lembram que as pernas se fazem história pelas marcas que
permitimos que nelas sejam inscritas…
Comentários
Enviar um comentário