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Em ela

Os seus pequenos dedos redondos e roliços conversavam com os cabelos da mãe enquanto os seus olhos grandes brincavam nos olhos dela. Sorria com ar maroto e envolvia ainda mais a sua mão naquele prado louro, fino, esvoaçante e terno. Ensaiava gargalhadas pequenas de cada vez que procurava em cada fio de cabelo um passadiço de ternura, uma passagem de vida doce e meiga. Eu olhava os dois e perdia-me naquele quadro de amor eterno.

A vida toda pode ser muito tempo, demasiado tempo até, para quem não ama, para quem nunca amou, ou para quem já esqueceu profundamente o que isso quer dizer pela mão de uma criança pequena. A criança grande do outro lado da mão, semicerrava os olhos de cada vez que o menino procurava apanhar mais daquele sol liso e sedoso vivente nos seus cabelos de mãe tudo.

A vida toda pode ser apenas um breve momento como este em que o mais que queremos é nada, nada mais do que ficar ali, olhando, sentido perto um sentimento fundo que se espraia nos lábios que sorriem e vivem esse sorriso de uma outra vida toda. A vida toda pode ser apenas este toque suave de quem ama e de quem desafia ser amado, procurando carinho, proteção, colo e regaço, calor e cansaço escondido por entre dedos pequenos e roliços.

A cada suave sorriso de desafio, entre os cabelos e os olhos da mãe, o menino cruza o seu olhar com o do pai, que ali estava, embevecido com a pintura viva nascida de amor para a vida toda. Detém-se por um momento a criança, sorri e ao encontrar os olhos da mãe faz com que ela se perca também no olhar do pai, do seu amor de sempre. Depois fica assim a olhar os dois e coloca o cabelo dela na sua cara, escondendo-se de vergonha e vivacidade nata, sorrindo e fechando os olhos, na plena segurança de um amor que é também seu, que é por si todo…um amor da vida toda…

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