Prometo

...prometer

Tiro o chapéu da cabeça e continuo a sentir que ele lá está. Repouso o corpo na tenda, no silêncio da noite e contínuo a sentir o bulício das crianças que correm enquanto dão gritinhos de felicidade. Já em casa semicerro os olhos pelo cansaço e apesar de dormir, não durmo, sonho com tudo o que fizemos, o que dissemos, onde chegámos, o que vivemos e o que viveram os que a nosso cargo estavam naquele fim-de-semana de outono, em pleno inverno ou às portas do verão vestido de uma natural alegria primaveril dos campos.

Prometi um dia. Prometo todos os anos depois desse dia. Prometo todas as vezes que coloco o chapéu e quando o retiro e quando o esqueço na mão enquanto os meus olhos se prendem na vivacidade teimosa das crianças que estão a crescer e que apenas por isso fazem barulho, porque estão vivas e porque o amanhã é ainda tão longe, tão indefinido, tão por conhecer ainda. Quando repouso não descanso e quando penso nada pensar, continuo a inventar novas formas de fazer o mesmo, de fazer de novo, de fazer outra vez. Prometi um dia e nunca mais deixei de sentir na cabeça o vinco do cordão macio com 20 anos de mim.

Há um vinco do chapéu que fica na cabeça para lá do tempo em que o uso em mim. O pequeno cordão segura-me a cabeça por fora ao passo que lá dentro as imagens saltam, cruzam-se, revolvem-se e fazem tudo fazer sentido. A Promessa deve ser isto, quem sabe, sentir um vinco de cordão macio mesmo quando não usamos o chapéu. A Promessa está a chegar de novo e desde esta manhã que o meu coração não para de saltar na caixa. Quando prometemos, o mais difícil não será cumprir, o mais difícil eventualmente será sentir o que nos traz essa permanente loucura que se cola em torno de tudo o que somos nós, para nos transformar a cada dia e permitir que vivamos com intensidade o que intensamente os outros nos fazem sentir.

A Promessa está a chegar e mais uma vez, 20 anos depois, já sinto o chapéu na cabeça, antes de o ter lá colocado…

Comentários

Mensagens populares