Segue a Cruz

Vem

É noite feita, cerrada num silêncio apenas quebrado pelo vento que zurze as águas e deixa as cabeças tontas, com os ouvidos dormentes. Os homens estão cansados, molhados pela chuva que cai na tempestuosa vida de quem passou a noite e nada pescou do mar. Tenta por favor imaginar o que sentiria cada um deles, cerra os olhos. Esgotados, a querer regressar a casa, com fome eventualmente, tristes pelo fracasso e doridos por essa mesma tristeza.

Junto deles chega Jesus, um tipo que não conheciam. Olha para o conjunto daquelas vidas. Depois olha para as vidas individualmente. Depois pede com voz terna e doce para entrar no barco e os pescadores dizem que sim sem conseguirem evitar, sem tirar os olhos dele. O barco avança na noite. Jesus pede que ali atirem as redes. Os pescadores dizem que ali nada haverá para pescar. Jesus insiste. As redes mergulham e os braços não chegam a braços com a faina farta e pesada. Jesus sorri enquanto o vento lhe levanta o cabelo e o sal do mar salpica a face. Os pescadores nem querem acreditar...


Jesus olha para a nossa vida, tantas vezes sem faina feita e encontra cada um de nós perdido na noite, descrente, rendido. Pega na nossa rede e ajuda que ela mergulhe na imensidão dos dias. Depois sorri. Depois diz-nos apenas: segue-me, farei de ti pescador de Homens. E nós vamos. E os pescadores foram. E a vida nunca mais é a mesma. E nós deixamos de ser o que éramos. E as redes apanham Homens, e depois os Homens são as redes e nós somos um barco onde Jesus navega com o vento a levantar-lhe o cabelo enquanto sorri para nós...


E nós vamos. E Ele não nos promete facilidades, pede antes que possamos trazer a nossa Cruz. Seguimo-lo até que o deixamos morrer e as nossas vidas ficam vazias. Depois, Ele, porque nos ama, manda calar o vento e serenar o mar. Entrega-se na Cruz e amando, faz com que a vida vença a morte. Nós ouvimos a sua voz, sabemos o que nos diz, nem sempre deixamos que entre na nossa vida...


Jesus tem sede de mim, disse-o na Cruz, mesmo antes de se render a um fim cujo propósito era apenas o início. Quero seguir-te... por vezes não sei como fazê-lo. Quero ter sede da tua vida abundante e da água viva que és tu. Quero que saias da Cruz para que possa ocupar o teu lugar e assim, no mar aberto da minha vida, dizer-te sempre:


Senhor Jesus, contigo irei, contigo irei. Quero dar-te, toda a minha vida, e o meu existir, contigo irei... 

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