Pôr a Vida em Campo

E se tu conseguisses entrar no medo que o futuro tem das pessoas? Se conseguisses ficar lá a ver o que temem os dias que virão perante a forma como vivemos o Hoje? E ter medo que as pessoas tenham medo e não entendam nada do que podem fazer ainda? O Escutismo não tem medo. Os que se dão aos outros não têm medo. Os que dão da sua vida para entrar no medo que os outros têm da sua própria vida, não param nunca de tentar trazer a luz sobre o escuro. No Escutismo todos temos medos.

Entras na rua, irreconhecível, num sábado de manhã, numa qualquer parte do mundo onde as pessoas têm medo do que não entendem, mas nada temem sobre os seus erros. Arrastas pela calçada a tua existência presa no lixo que carregas dentro de ti e que se colou já à forma como vives. A roupa velha e larga faz de ti um desgraçado, um fora da vida, mas ninguém sabe da tua vida. As crianças param para te ver. Os seus pais param para ver se elas estão a ver. Ninguém te esperava assim. Todos têm medo, sobretudo eu.

No Escutismo sério que tu fazes, a única mensagem que as pessoas ainda lêem és tu. És tu na tua vida. És tu quando saltas fora de ti, quando sais alto do tu e consegues olhar os outros, com outros olhos. No Escutismo, quando colocas a Vida em Campo, quando abraças os que têm saudades de casa enquanto a chuva te molha a biqueira das botas. Quando fazes da vida o campo onde cresces, e os outros se alegram contigo, e já não choram mais.

Eu sei que poderia viver de outra forma, mas também tenho a certeza que não seria viver tudo. E depois a chuva cai durante a noite, batendo na tua tenda, querendo que tu saias para veres o mundo a viver, e tu sais, e ficas sentado na terra a ver quando todos dormem e já não tens medo da máscara que colocaste de manhã porque entendes que o futuro não virá, esteve sempre aqui para ti, está sempre ansiando por ti, na rua que escolhes nesse dia, enquanto a chuva escorre na biqueira das tuas botas...

Quando te dás, ninguém tem medo, isso é o Escutismo que tu vives quando és mais...