Quando o mar se acalmar

Para sempre

Até quando? Pergunta a voz doce de Claudine no centro do altar naquela noite de inverno. A penumbra mora ali e o som da oração ganha consistência, sente-se entre os nossos dedos, no peito, nos olhos, nos ouvidos. Nas palavras ditas, cantadas, rezadas no lugar, de mãos postas nas mãos, ou apenas de mãos serenas, aguardando resposta. Não é a interrogação que fica, é a vontade de continuar a perguntar para obter sempre a resposta que vem de Deus.

Saímos de casa de manhã e queríamos voltar para casa cedo, não é assim todos os dias? Corremos sempre em frente com o propósito de chegar onde todos chegam, queremos continuar, mesmo quando estamos assustados e com medo. Esquecemos que apenas quando o mar se acalmar, quando a barca parar, quando a outra margem ficar mais perto de mim, só aí, sou capaz de dar graças, por toda a calma. Até quando meu Senhor me esquecerei de Ti? Para sempre tu me lembras, tu me encontras, tu me queres, tu me és, tu me tens, tu me salvas...

Só tu nos podes dar a calma e é por ela que continuo, mesmo quando estou assustado. Rochedo, iluminas o meu olhar e cuidas de mim, desde que o dia começa até que ocorre o seu ocaso. Para sempre no calor desse abraço que me trouxe até aqui, até Ti. Perdidos, cansados, desanimados, indecisos, homens de pouca Fé, estremecemos como estremecem os canaviais na noite de ventania. Tu és o caminho à Misericórdia e a certeza de que conto contigo porque comigo contas também.

Muitas vezes não sei como falar-te e assim pergunto, desviando-me da resposta que me envias: Até Quando? Para Sempre. O que queres que eu faça? pergunto de novo, como se não soubesse já a resposta que sinto arder no meu coração. A minha vida descansará em Ti, sempre que eu for capaz de deixar de fazer perguntas e colocar as respostas nas minhas palavras.

Quando o mar se acalmar, quando a barca parar, quando fizer eu próprio que a outra margem fique mais próxima de mim, só assim reconhecerei que tu és a Água Viva que me grita no silêncio o Caminho e a Verdade de que sou eu próprio Vida, Capaz de Ti, porque Tu, Tu és Capaz de Mim...