Quando nos descobrimos "Do Lado de Cá"

Do Lado de Cá

Não sei se será a melhor forma de todas, mas é com toda a certeza uma das melhores maneiras de nos conhecer a nós próprios: deixar que os outros nos conheçam. Quando deixamos que os outros entrem na nossa vida, pela bondade de conhecer melhor quem somos, inevitavelmente isso desencadeia em nós um processo bonito de auto-conhecimento. Quando acolhemos em nós os que querem de nós, que querem estar mais próximos, damos connosco a preparar a casa para os receber, a preparar o coração para os acolher, a renovar os nossos dias para dar a conhecer como vivemos, o que fazemos, onde queremos ir...

Quando isto acontece com crianças...bem, aí... ganhamos de bónus uma sinceridade na abordagem que, na grande maioria das vezes, nos desarma, nos simplifica a forma de estar, nos desconstrói ao toque de um sorriso apenas, que nos leva a deixar de querer, levando-nos apenas a sentir e a dar de volta, de forma sincera, tudo o que somos e o que temos. Abrir as portas de nós, acolhendo quem chega para nos conhecer, obriga assim a que façamos primeiro uma visita ao que somos enquanto gente, ao que mostramos enquanto pessoa, ao que sentimos enquanto criança grande a quem a actualidade dos dias pede que envelheçamos na tristeza das coisas óbvias, sem alegria, sem imprevisibilidade, sem loucura boa de apenas viver...

Estive ainda há pouco, numa sala bonita onde só acontecem coisas sérias, coisas de gente grande, de propósito maior. Nessa sala bonita que o tempo não apagou, onde se têm discutido inúmeras vezes os destinos das pessoas, sentaram-se crianças, muitas crianças, crianças alegres, desprendidas, despretensiosas, genuínas e que nos vieram conhecer. Nós deixámos que elas conhecessem o nosso trabalho, o nosso propósito. Nós (re)descobrimos que estamos a fazer o nosso trabalho por elas, pelo seu futuro, pelas suas famílias de hoje, de amanhã e de depois. Elas aprenderam a conhecer-se a si também, reconhecendo quem são, e saboreando a oportunidade boa de, ao longo deste projecto, terem também conhecido melhor o valor das suas famílias, de todas e de cada uma.

Afinal...esta continua a ser uma sala onde acontecem coisas enormes...