Ela vive na nossa vida

Ardendo-lhe o coração
Não choro. Não dá para chorar quando o nosso coração aceita. O sofrimento da perda de alguém que se quer muito, existe em nós, todos, manifesta-se no medo, na saudade, na ausência, na projecção de um futuro que será sempre diferente porque já não está entre nós (de forma visível). Aceitemos isso. 

O sofrimento é como que um vazio, um buraco escuro no centro da nossa alma, como que uma falha que não pode ser suprida. A verdade é que eu não chorei, como muitos outros não choraram ali naquela igreja. Este foi um dia para agradecer a vida, a forma como a Cláudia a viveu, a forma como nos foi cativando a todos ao longo da sua história, dos seus afazeres, dos seus sonhos, das suas realizações, do seu silêncio, da sua oração.

Como posso chorar se me arde o coração ao ouvir a chegada de Jesus que a vem levar pela mão? Neste caminho de Emaús, ela chega já lá do alto, vem com o Senhor e ajuda-nos a reconhecer o partir do pão, o som da Palavra, os passos que vamos dando. A vida é eterna porque enquanto vivemos aqui deixamos nos outros marcas para sempre. A vida é eterna porque os laços que se fazem aqui, são reforçados no céu. A vida é eterna porque não há uma qualquer morte que consiga pôr fim aos momentos venturosos que partilhamos juntos, às conquistas, às descobertas, às superações, aos silêncios, aos sorrisos. 

E que sorriso guardamos dela! Por isso não chorei, porque a força do seu sorriso sentia-se desde o chão que pisámos todos, até ao topo daquela igreja que foi pequena. Sorri, tantas vezes sorri entre um inicio de um cântico (que ela adorou) e uma troca de olhares com quem estava a meu lado. Sorri lembrando as vezes que cruzámos os olhares e trocámos 4 ou 5 palavras. Sorri ao lembrar como sorria e como conseguia passar esse sorriso aos filhos, essa alegria serena, esse deleite de saber estar, essa meiguice de estar constantemente em oração com a vida.

E que forma mais bonita de continuar a vida no céu, deixando nas nossas mãos a certeza de que podemos ser como ela foi. E que forma mais bonita de ficar connosco, subindo ao Pai para lhe falar de nós. E que forma mais bonita de reforçar a nossa vida tendo aceite entregar a sua a Nossa Senhora. E que forma mais bonita a de a recordar na vida que nos deu a conhecer, no prolongamento de uma vida para sempre, aguardando que cada um de nós aspire ao Céu e que lá, onde termina o caminho de Emaús, possamos fazer a festa, num Céu que se tornará pequeno, desde o chão que pisamos todos até ao topo das nossas conquistas...

Logo mais posso chorar, ou amanhã, ou no dia seguinte, ou daqui a muitos dias, quando eu quiser. Mas hoje não, porque hoje o sorriso que nos deixa não deixa espaço para nenhuma tristeza...

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