Seremos mesa. Seremos Tu.

Mesa

É na mesa que nos damos. Foi isso mesmo que Jesus fez por nós. Imagino-os sempre, todos atarefados para preparar a ceia da Páscoa para o Senhor. Há muito tempo que estavam juntos, já o conheciam bem por dentro. Ele também os conhecia a todos, a cada um, desde o tempo em que ainda eram cobradores de impostos, pregadores da palavra, pescadores ou andavam na vida sem qualquer rumo. Havia sido Jesus que escolheu cada um deles, num dia próprio, num contacto direito, pessoal, avassalador. Havia-os escolhido para estar consigo e expulsar demónios. Digamos que na preparação da ceia daquela Páscoa, estavam livres dessas funções, como se estivessem de folga.

Os 12 povoaram a última ceia sem saberem que seria a última. Jesus sabia, sofreu com isso, pediu força ao Pai que estava no Céu e perseverou. Jesus alicerçou nestes 12 “homens novos“, porque haviam deixado as suas velhas vidas para trás, a restauração de toda a Terra, e não apenas do Reino de Israel. Sentou-se com eles à mesa e depois de ter mostrado a sua grandeza na simplicidade com que lhes lavou os pés, falou com eles, riu com eles. Consigo ouvir o crepitar do lume lá atrás onde o pão foi preparado, as vestes roçavam na madeira dos bancos de madeira e a boa disposição enchia a sala. Estavam juntos, um dos propósitos de se terem tornado apóstolos de Jesus, estarem juntos.

Jesus quer falar, procura fazê-lo para todos, para chegar também a nós, ainda hoje, mas direcciona o seu olhar de perdão para Judas e Simão chamado Pedro. Tu faz o que tens a fazer, mas depressa, vai, para que se cumpra o que está escrito e o Filho do Homem pereça para que o Filho de Deus tome o seu lugar na história de todas as vidas que virão ainda. E tu, tu serás a pedra basilar da minha Igreja, essa igreja que começa hoje pelo partir do pão e pela partilha do sangue do cordeiro, que vos marca para sempre, que vos fará vivos, sem sede, sem fome, para sempre. Deixa-me lavar-te os pés, e quando me negares lembra-te que tenho para ti uma missão que chegará para lá deste dia, de todos os dias que virão.

Aos outros como a estes, ele amou sempre. Quando os olhou nos olhos a primeira vez já os amava, foi por isso que os resgatou, no mar, naquela noite de frio e vento, foi por isso que os arrancou das bancas dos impostos, foi por os amar que chamou tantos outros, que os chama ainda, de cima das árvores, de dentro dos sepulcros, das paviolas, da beira da estrada, dos caminhos que fazemos sem o reconhecer, das pedras que nunca foram atiradas. A última ceia, além de ter sido a instituição da Eucaristia como memória eterna da vida que viveu por nós, connosco, foi também a instituição do amor enquanto um novo mandamento que tudo pode. Por amor tudo é, tudo fica, tudo faz, tudo vence, tudo muda, tudo pode.

A mesa somos nós quando nos dispomos a aceitar a azáfama de quem prepara para os outros, de quem recebe os outros e de quem, na verdadeira humildade, se dá aos outros. A partilha do pão e do vinho acontece em nós. O amor acontece em nós. 

Naquele dia, nada do que aconteceu foi o fim, foi apenas o inicio da oportunidade que nos deste de podermos ser Tu e assim sendo, assim querendo, levar por amor à vitória diária da vida sobre a morte…

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