Um primeiro novo dia

Dia primeiro

O primeiro dia é sempre o melhor. Não protegi nada. Não falhei em nada. Não perdi nada nem desisti de encontrar o que quer que fosse. Não deixei ninguém para trás. No primeiro dia somos sempre enormes, do tamanho da nossa vontade, da nossa ânsia, do primeiro nervoso que se enrola lá ao fundo do estômago. Hoje não salvei ninguém. Não fui salvo nem resgatei. Não prendi, não libertei.

Hoje foi apenas descobrir e conhecer. O primeiro dia corre sempre bem, como se o medo de não estar penteado, de levar a roupa errada, de não ouvir, de esquecer, de não ver, fosse capaz de me colher, e por isso nada mais houvesse a recear. O primeiro dia é sempre o melhor porque pensamos que tudo é possível, durante todos os dias que se seguem.

Hoje foi o primeiro dia. O primeiro dia é sempre diferente, nunca mais se repetirá nem nunca mais será recuperado. Cheguei cedo, quando o sol ainda andava a espreguiçar-se lá no céu. O silêncio era ainda o da noite que havia terminado. Tudo é possível num dia como este. Tudo é possível em todos os dias que aí vêm. O primeiro dia é sempre o pior, o dia sobre qual recai sempre toda a saudade...

Amanhã? Bem, amanhã é sempre outro dia para fazer diferente... para continuar a voar, vivendo, procurando os outros primeiros dias do resto dos nossos dias...