Sobre as águas

Hoje não
O Martim já não usa braçadeiras na piscina. O Miguel não as quer colocar de todo. A mãe fica preocupada, abre as suas grandes asas e coloca-os debaixo das penas para que eles não possam sair dali. Eu fico-me a rir e pego nos três ao colo e coloco-os a todos dentro de água de uma vez só. Risos e gritinhos. Enquanto o benjamim conta até 3, o mano mais velho já me saltou para os ombros. Querem tudo de novo. A mãe encosta o peito nas minhas costas, e ao mesmo tempo que me abraça, pede baixinho para que o tempo não passe...

Crescer. O problema está em crescer. Tenho pedido sempre ao Martim para que não cresça nunca, mas depois queremos que ele se porte como um homem. O Miguel tem a alegria de um bebé feliz, mas depois pensamos que o barulho dele pode incomodar alguém e lá lhe entregamos um ralhete. Eles não querem saber. Ainda bem.

Crescer trás destas coisas, confusas, estranhas. Crescer afasta os nossos filhos em direcção à vida e nós continuamos a querer aprisioná-los em nós. Às vezes fechamos os olhos e pedimos que o tempo não passe. Outras vezes apenas pedimos que ele passe bem, que não pare, que faça deles uns homens, que se conservem meninos.

Degrau a degrau, seja qual for o chão que pisamos, temos medo de avançar e já não podemos voltar para trás. Por vezes caminhamos sobre as águas, outras vezes ficamos submersos pela trapalhada de viver a correr. Hoje não. Estamos todos agarrados num abraço, enquanto entramos na água e a mãe aperta os filhos contra si, ao mesmo tempo que me abraça e sorri...

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